Um ovo de dinossauro quase intacto foi encontrado neste país: ele pode conter um embrião em desenvolvimento de um animal carnívoro

Na noite de 7 de outubro de 2025, um grupo de paleontólogos argentinos testemunhou um momento histórico que uniu ciência e emoção. Durante uma transmissão ao vivo da parte norte da província de Rio Negro, no coração da Patagónia, a equipa do Laboratório de Anatomia Comparativa e Evolução dos Vertebrados (LACEV) do Museu Argentino de Ciências Naturais (MACN) retirou da areia um objeto oval que parecia uma simples fossilização. Em questão de segundos, eles perceberam que tinham nas mãos algo extraordinário: um ovo de dinossauro quase intacto, preservado por mais de 70 milhões de anos.

«Isso é uma fósseis, meu?» — exclamou incrédulo o paleontólogo Federico Añolín diante das câmaras. A descoberta foi registada e transmitida ao vivo através do @paleocueva.lacev, a conta oficial do laboratório, e causou uma onda de espanto em todo o mundo. Como descreve Constança V. Paura na National Geographic, esta cena representa «o momento exato em que a ciência e as emoções humanas se fundem numa única imagem».

O fóssil foi encontrado a poucos centímetros da superfície, coberto por uma camada de areia fina. A sua forma, textura e casca perfeitamente preservada impressionaram até mesmo os investigadores. «Estava tão bem preservado que parecia fresco», disse Agnolin numa entrevista posterior publicada no El País Ciencia. Ao seu redor foram encontrados fragmentos de outros ninhos, ossos e fósseis de pequenos répteis e mamíferos, o que sugere que essa área era uma antiga zona de nidificação no período Cretáceo Superior.

Cápsula do tempo da era pré-histórica

Esta descoberta faz parte da expedição «Período Cretáceo I», apoiada pelo Conselho Nacional de Investigação Científica e Técnica (CONICET), Fundação Azar, Sociedade Geográfica Nacional e governo da província de Rio Negro. De acordo com as primeiras análises, o ovo pode pertencer à espécie Bonapartenykus, um pequeno dinossauro carnívoro terópode descrito na Patagónia em 2012. Se a tomografia computadorizada e a digitalização 3D confirmarem a presença de material embrionário, estaremos perante uma das descobertas mais excepcionais da paleontologia sul-americana: o feto em desenvolvimento de um dinossauro carnívoro, que poderá revelar detalhes sobre a sua postura, altura e até mesmo o seu sistema respiratório.

Há 70 milhões de anos, o norte do Rio Negro era uma paisagem de lagos e florestas, onde coexistiam dinossauros, aves primitivas e pequenos mamíferos. Como explica o Museu Argentino de Ciências Naturais, essa descoberta abre acesso direto a esse ecossistema e pode fornecer novas informações sobre as estratégias de nidificação e reprodução dos dinossauros do hemisfério sul.

A região da Patagónia já foi palco de notáveis descobertas paleontológicas. No sítio arqueológico de Auca Mauévo (Neuquén), na década de 90, os investigadores descobriram ovos com embriões de titanossauros, alguns dos quais com impressões de pele fossilizada. Essas pesquisas, lideradas por Luis Chiappe, foram publicadas na revista Nature e abriram um novo campo de investigação na área do desenvolvimento embrionário dos dinossauros. Décadas depois, em outro trabalho do CONICET, publicado na Current Biology, foi descrito o primeiro crânio tridimensional de um embrião de titanossauro, preservado em excelente estado.

A descoberta em Rio Negro pode ampliar esse legado, desta vez na linha dos dinossauros carnívoros. Conforme explicou a equipa do LACEV em seus comunicados, nos próximos meses, o fóssil será submetido a microtomografia e digitalização 3D para confirmar se contém um embrião e em que estágio de desenvolvimento ele se encontrava.

Além do seu valor científico, esta descoberta simboliza uma nova abordagem à divulgação da ciência: uma ciência que não se esconde atrás das paredes dos laboratórios, mas convida o público a observar, admirar e partilhar o espanto pelo conhecimento adquirido em tempo real. Como resumiu Añolín, «a ciência também pode se maravilhar, e isso não a torna menos rigorosa».

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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