O acesso à água potável continua a ser um dos maiores desafios do século XXI. De acordo com diferentes organismos, mais de 80% da população mundial vive em regiões afetadas por algum tipo de estresse hídrico. A busca por soluções sustentáveis que não dependam de infraestruturas dispendiosas impulsionou a criatividade científica em diferentes partes do mundo.
Neste contexto, investigadores da Austrália e da China desenvolveram um dispositivo tão simples quanto eficaz: um cubo de madeira capaz de extrair água do ar e transformá-la em líquido próprio para consumo. O seu funcionamento baseia-se em processos naturais de evaporação e condensação, mas otimizados através de materiais inovadores e do uso de energia solar.
O protótipo é fabricado a partir de madeira de balsa deslingnificada, o que significa que o seu componente rígido foi removido, deixando-a esponjosa e altamente porosa. Essa estrutura permite absorver a humidade do ambiente de forma eficiente. O processo é completado com o uso de sal de cloreto de lítio e uma camada de tinta de nanotubos de carbono. O sal reage com as moléculas de água do ar, maximizando a absorção, enquanto a tinta preta absorve a radiação solar e aquece o material rapidamente.
Durante o dia, a energia do sol faz com que a água acumulada evapore e condense dentro do cubo, transformando-se em água líquida pronta para ser recolhida. De acordo com o artigo publicado no Journal of Cleaner Production, este método atinge uma eficiência de 94% em condições experimentais. O sistema não requer alimentação elétrica nem manutenção, o que o torna uma solução portátil e sustentável para a geração ilimitada de água potável.

Testes de eficiência deste cubo de madeira e resultados experimentais
Os testes de campo realizados pelos investigadores mostraram resultados encorajadores. Em ambientes com uma humidade relativa de 65,9%, cada grama do material absorveu aproximadamente 2,5 mililitros de água durante a noite e libertou a maior parte ao ser exposto ao sol no dia seguinte. Mesmo em condições de baixa humidade (cerca de 30%), o cubo manteve a sua capacidade de capturar água.
O dispositivo, que pesa menos de um grama, pode ser utilizado individualmente ou combinado com outros para aumentar a produção. Nove cubos juntos podem gerar cerca de 15 mililitros de água em um único dia. Essa modularidade permite dimensionar o sistema de acordo com as necessidades: desde uso doméstico ou agrícola até operações de emergência em áreas de desastre. Os testes demonstraram ainda que o cubo mantém a sua estrutura e funcionalidade mesmo depois de ter sido armazenado a -20 °C durante 20 dias, o que garante a sua resistência a condições extremas.
Uma solução simples para o problema global da água
A inovação destaca-se pela sua simplicidade e escalabilidade. Os materiais utilizados (madeira, sal e tinta de carbono) são acessíveis, biodegradáveis e fáceis de obter. Esta abordagem reduz os custos de produção e facilita a fabricação em grande escala. O Dr. Derek Hao, investigador principal da RMIT, explicou num comunicado oficial que o design aproveita a estrutura natural da madeira para melhorar o transporte da água através dos seus poros. «O dispositivo absorve a humidade quando está aberto e liberta-a ao fechar-se ao sol, gerando água potável sem depender de fontes externas», afirmou.
Por sua vez, o Dr. Junfeng Hou, da Universidade Zhejiang A&F, indicou que o cubo poderia ser aplicado em situações de emergência, em comunidades isoladas ou em regiões onde os sistemas de distribuição não são viáveis. Além de produzir água potável ilimitada, o sistema pode ajudar a regular a humidade ambiental em espaços interiores, contribuindo para melhorar o conforto e a saúde.

Possíveis aplicações deste cubo e desenvolvimento futuro da água potável
A ideia central deste projeto é criar uma solução solar e modular que funcione em qualquer parte do mundo. Os investigadores já estão a trabalhar em versões maiores do dispositivo e na sua integração com sistemas baseados em energia renovável. Entre as melhorias previstas está a incorporação de painéis solares com armazenamento térmico para garantir um funcionamento contínuo, mesmo em dias nublados ou durante a noite. Também está a ser avaliada a possibilidade de adicionar sensores inteligentes conectados através da Internet das Coisas para otimizar os ciclos de absorção e libertação da água.
A combinação de inteligência artificial e materiais naturais abre as portas para uma nova geração de tecnologias que podem redefinir a gestão do recurso mais essencial: a água. De acordo com a equipa de investigação, o seu dispositivo tem potencial para produzir água potável ilimitada em zonas áridas sem depender de infraestruturas dispendiosas ou redes elétricas. Um passo em direção ao acesso universal à água O cubo de madeira projetado por cientistas da Austrália e da China representa uma alternativa viável às tecnologias atuais de dessalinização ou captação de neblina, que geralmente exigem grandes investimentos e manutenção contínua.
Embora ainda esteja em fase de laboratório, este protótipo demonstra que é possível obter água potável ilimitada usando materiais cotidianos e energia limpa. Sua escalabilidade e baixo custo o tornam uma opção promissora para enfrentar a crise hídrica global. Os investigadores estão em conversações com parceiros industriais para a sua produção em escala piloto e posterior implementação no terreno. Se os resultados forem confirmados, o window cube poderá marcar uma mudança na forma como se acede à água.

 
     
    






