Suplementos para melhorar a saúde mental? O que a ciência diz sobre os seus benefícios reais

Especialistas e estudos científicos analisam esta tendência que já desperta controvérsia. De efeitos comprovados à ausência de provas sólidas, o que considerar antes de escolher e por que é fundamental consultar um profissional de saúde, de acordo com a National Geographic O interesse por suplementos destinados à saúde mental intensificou-se nos últimos anos, favorecido pela percepção de que esses produtos “naturais” são mais seguros e acessíveis do que os medicamentos tradicionais.

No entanto, a maioria dos suplementos comercializados para tratar a depressão e melhorar o humor carece de respaldo científico sólido, de acordo com uma revisão recente citada pela National Geographic. Apenas um grupo limitado desses produtos mostrou benefícios mensuráveis e, mesmo assim, apresentam limitações relevantes. O aumento dos suplementos responde, em parte, ao estigma persistente associado ao uso de tratamentos farmacológicos na saúde mental. Nicholas Fabiano, investigador do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Ottawa, afirmou à National Geographic que muitas pessoas têm medo de tomar medicamentos e procuram alternativas que consideram menos intensas ou de menor duração.

O boom dos suplementos naturais responde ao estigma sobre os tratamentos farmacológicos em saúde mental Essa tendência tornou os suplementos uma opção frequente para aqueles que desejam aliviar os sintomas de depressão ou ansiedade sem recorrer a medicamentos. No entanto, as evidências disponíveis indicam que a maioria desses produtos não cumpre as promessas anunciadas. Uma revisão publicada em 2025 na revista Frontiers in Pharmacology, dirigida por Rachael Frost, da Liverpool John Moores University, concluiu que suplementos comuns, como multivitaminas, vitamina B, misturas de ervas relaxantes e melatonina, não demonstraram eficácia significativa contra a depressão.

Frost disse à National Geographic que, embora existam ensaios sobre esses produtos, a quantidade e a qualidade dos estudos não permitem tirar conclusões definitivas. As evidências científicas sobre a eficácia de multivitaminas, vitamina B, misturas de ervas e melatonina são insuficientes. Mesmo os suplementos de ómega-3, promovidos durante anos como aliados do bem-estar emocional, não passaram no teste: dos 39 estudos analisados, 23 não encontraram diferenças relevantes em relação a um placebo, e os dados positivos foram insuficientes para recomendar o seu uso como tratamento confiável.

Suplementos com evidências positivas

Um pequeno número de suplementos mostrou resultados encorajadores em pesquisas recentes. A erva de São João, os probióticos, a vitamina D e o açafrão estão entre os produtos com maior respaldo científico até o momento. De acordo com a revisão liderada por Frost, 16 dos 26 ensaios sobre a erva de São João relataram melhora nos sintomas de depressão, especialmente em casos leves ou moderados. A erva de São João, os probióticos, a vitamina D e o açafrão apresentam suporte científico no tratamento da depressão

Um estudo citado pela National Geographic apontou que aqueles que consumiram 600 mg de extrato, uma ou duas vezes ao dia, tiveram quase o dobro de melhora em relação àqueles que receberam placebo. No entanto, a eficácia da erva de São João para casos graves de depressão continua sem comprovação. Quanto aos probióticos, nove de 16 estudos indicaram que eles poderiam ajudar a reduzir os sintomas depressivos. Em um desses ensaios, pessoas com depressão grave que incorporaram um probiótico com 900 bilhões de microrganismos vivos ao seu tratamento habitual durante 31 dias relataram uma melhora significativa em comparação com o grupo que não o consumiu.

A vitamina D mostrou efeitos positivos em seis dos nove estudos, especialmente em pessoas com depressão leve ou moderada após receberem doses elevadas durante oito semanas. O açafrão completa a lista de suplementos com evidência positiva, embora os estudos disponíveis continuem a ser limitados em tamanho e alcance. Embora existam avanços, os especialistas salientam que a maioria dos ensaios sobre suplementos para a depressão tem limitações notáveis. Além disso, a variedade de formatos (cápsulas, chás, tinturas) complica a comparação direta da eficácia entre os produtos. «É necessária mais investigação para determinar qual o suplemento mais eficaz, qual a dose que deve ser tomada e em que formato», afirmou Frost em diálogo com a National Geographic.

Fatores influentes e advertências sobre os suplementos

As crenças pessoais e o efeito placebo influenciam significativamente a perceção de melhora. Um estudo de 2022 citado pela National Geographic mostrou que a sensação de estar a tomar medidas proativas para a saúde pode traduzir-se em melhorias reais, mesmo que o suplemento não tenha efeitos clínicos comprovados. Fabiano indicou que quantificar o alcance do placebo é complexo, pois varia de acordo com a substância e nem sempre é fácil de medir. Por esse motivo, parte dos benefícios atribuídos aos suplementos pode ser mais devido às expectativas do consumidor do que a uma mudança biológica comprovada.

A falta de regulamentação rigorosa no mercado de suplementos acrescenta novos riscos. Ao contrário dos medicamentos, estes produtos não estão sujeitos a controlos rigorosos de segurança, eficácia ou composição. Frost expressou à National Geographic a sua preocupação com a investigação limitada sobre os riscos e efeitos prolongados e salientou a importância de advertências sobre possíveis interações ou perigos nos rótulos. As diferenças regulatórias entre países podem causar problemas como contaminação, doses excessivas ou ingredientes ocultos.

Fabiano acrescentou que os médicos podem não confiar que o conteúdo do suplemento corresponda ao declarado no rótulo, o que dificulta recomendá-los na prática clínica, a menos que tenham experiência ou formação específica no assunto. Embora os suplementos sejam frequentemente apresentados como alternativas «naturais», eles não estão isentos de riscos, especialmente em combinação com medicamentos prescritos.

Algumas substâncias, como a erva de São João, podem interagir de forma perigosa com antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), intensificando ou diminuindo os seus efeitos. Por isso, Fabiano recomendou sempre consultar um médico antes de iniciar qualquer suplemento, para evitar complicações e garantir uma abordagem segura da saúde mental.

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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