Robótica híbrida: quando plantas e cogumelos se transformam em motores vivos

Até recentemente, a ideia de que uma planta pudesse mover uma máquina ou que um cogumelo pudesse funcionar como cérebro de um robô parecia algo saído de um romance de ficção científica. No entanto, a robótica híbrida, um ramo que combina biologia e tecnologia, demonstra que a fronteira entre o vivo e o mecânico pode ser muito mais tênue do que pensávamos. Hoje, engenheiros, biólogos e artistas trabalham lado a lado em projetos nos quais plantas, cogumelos e até mesmo bactérias não são meros acessórios, mas componentes importantes do sistema. Esses seres vivos não servem apenas como decoração: eles proporcionam movimento, sensibilidade, energia e até mesmo «decisões». Em outras palavras, as máquinas começam a ganhar um pouco de vida.

O nascimento da robótica híbrida

Durante décadas, a robótica tradicional foi construída sobre uma base rígida: metal, plástico, esquemas e código. Mas, nos últimos anos, surgiu uma direção mais suave e orgânica: a soft robotics ou robótica suave. Inspirada na natureza, esta disciplina procura materiais que se dobram, adaptam e reagem como tecidos vivos. A robótica híbrida vai ainda mais longe. Já não se trata de imitar a biologia, mas sim de a integrar. Um dos primeiros exemplos surgiu na Universidade, onde um grupo de cientistas conseguiu criar uma folha artificial movida por células vegetais reais. Essas células reagiam à luz e à humidade, produzindo movimentos que se transformavam em ações mecânicas. Era uma mistura de ciência e poesia: uma máquina que se movia graças à vida.

Plantas que «controlam» robôs

Pode parecer estranho, mas já existem robôs controlados por plantas. um grupo de investigadores utilizou uma planta carnívora para acionar um braço robótico. Sempre que a planta fechava as suas folhas, detetando humidade ou vibração, esse impulso natural era transformado num sinal elétrico que acionava o mecanismo. Essas ideias, embora ainda estejam em fase experimental, abrem enormes possibilidades. Imagine sensores ambientais que se comportam como organismos naturais ou robôs agrícolas capazes de «sentir» o solo, reagindo à seca ou ao excesso de humidade.

Cogumelos: a nova fronteira da biotecnologia

Se as plantas podem ser os «músculos» destas máquinas vivas, os cogumelos podem ser os seus cérebros. O segredo está no micélio, uma rede subterrânea que liga os organismos fúngicos, que alguns cientistas comparam ao sistema nervoso natural. Investigadores da Universidade  descobriram que o micélio pode transmitir impulsos elétricos de forma muito semelhante aos neurónios. Ao reagir a estímulos do ambiente, eles parecem aprender e adaptar-se, o que os torna candidatos ao papel de processadores biológicos. Além disso, o micélio tem vantagens práticas: é leve, resistente e totalmente biodegradável. Hoje em dia, já é utilizado para a produção de materiais ecológicos, embalagens e até mesmo peças de construção. Num futuro próximo, poderemos ver robôs cujos «ossos» são feitos de micélio vivo, capaz de crescer e se autorregenerar.

A natureza como engenheira

Na essência, a robótica híbrida é uma ideia poderosa: a natureza não é um recurso, mas uma parceira. Em vez de produzir máquinas que competem com o ambiente, esta disciplina procura projetar sistemas que o complementam. Por isso, muitos destes projetos apostamna sustentabilidade. Os investigadores estão a desenvolver robôs que se decompõem sozinhos no final da sua vida útil, feitos de tecidos vegetais ou materiais fúngicos. Outros estão a investigar bactérias que geram eletricidade a partir de resíduos orgânicos, o que permitiria criar dispositivos que se «alimentam» do seu próprio ambiente.

Desafios éticos e tecnológicos

Nem tudo é tão simples. A robótica híbrida levanta questões que vão além da engenharia. Até que ponto é ético usar organismos vivos para fins tecnológicos? Onde termina a máquina e começa a vida? Os especialistas concordam que a chave para a solução está no respeito: usar as capacidades biológicas sem transformar os organismos em meros instrumentos. Existem também problemas técnicos importantes. Manter a vitalidade dos componentes biológicos dentro de uma estrutura mecânica requer controlo de temperatura, humidade e nutrientes. Além disso, os processos naturais são lentos e imprevisíveis, o que contrasta com a precisão e velocidade da robótica tradicional.

O futuro: máquinas que crescem e sentem

Apesar das dificuldades, o futuro da robótica híbrida parece empolgante. Não se trata de criar monstros, metade máquinas, metade plantas, mas sim sistemas vivos e sustentáveis. Robôs que crescem, se reparam sozinhos e reagem naturalmente ao ambiente. Já estão a ser desenvolvidos jardins inteligentes que utilizam as reações das plantas para regular a iluminação ou a rega, robôs agrícolas vivos que interagem com as culturas e até mesmo estruturas arquitetónicas feitas de micélio, capazes de absorver CO₂ e regular a temperatura.

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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