Quais são as possibilidades de existir vida ou civilizações noutros planetas?

Existem triliões de planetas no universo, muitos deles dentro da zona habitável da sua estrela. Estimativas estatísticas conservadoras calculam que poderia haver dezenas de civilizações apenas na Via Láctea Recriação artística Ross 128 b, o segundo exoplaneta conhecido mais próximo da Terra que é potencialmente habitável. Ele orbita em torno de uma anã vermelha que está a apenas 11 anos-luz.

Atualmente, a Terra é o único lugar no cosmos onde sabemos com certeza que existe vida. Essa ausência de dados confirmados sobre outros mundos impede a realização de estatísticas no sentido clássico. No entanto, podemos fazer estimativas com base no nosso conhecimento atual do universo. É importante distinguir entre a existência de vida — que poderia ser microbiana e simples — e o surgimento de civilizações, entendidas como formas de vida que desenvolveram estruturas sociais, culturais e tecnológicas complexas. Embora gostemos de imaginar os extraterrestres como seres inteligentes, a ciência indica que, se existe vida noutros planetas, é mais provável que seja microscópica. Não devemos esquecer que, durante a maior parte da história da Terra, a vida foi dominada por microrganismos, o que leva a crer que a complexidade biológica pode demorar muito tempo a aparecer.

A primeira tentativa séria de quantificar as nossas expectativas sobre a vida extraterrestre foi feita pelo astrónomo Frank Drake em 1961, com a sua famosa equação. Esta fórmula estima o número de civilizações na nossa galáxia capazes de comunicar connosco, considerando fatores como a taxa de formação de estrelas com sistemas planetários, a fração desses planetas que poderiam ser habitáveis e a probabilidade de que em algum deles surja vida e esta evolua até desenvolver inteligência e tecnologia. Por último, a equação inclui um termo que não devemos descurar: a duração que poderia ter uma civilização com essas características.

Embora a equação tenha sido formulada por Drake, foi Carl Sagan quem a popularizou, tornando-a um símbolo cultural através da sua série Cosmos. Os valores das suas variáveis são incertos. Com estimativas conservadoras, Drake calculou que poderia haver algumas dezenas de civilizações na Via Láctea. Com valores mais otimistas, o número poderia chegar a bilhões. Se isso fosse verdade, teríamos que dar razão ao físico Enrico Fermi, que se perguntou: “Onde estão todos?”, um paradoxo que continua sem resposta. Hoje sabemos que o número de planetas no universo é imenso, da ordem dos triliões. Muitos deles podem estar na zona habitável da sua estrela, onde a água líquida pode existir na superfície. Além disso, descobertas recentes ampliaram este conceito: na Terra, foi encontrada vida microbiana a vários quilómetros de profundidade, o que sugere que o subsolo planetário também poderia abrigar vida. Mesmo no nosso sistema solar, existem luas, como Europa ou Encélado, que escondem oceanos subterrâneos sob uma espessa camada de gelo, aquecidos pela energia gravitacional dos seus planetas.

Tudo isto nos leva a pensar que os locais potenciais para a vida são numerosos. Mas qual é a probabilidade de a vida surgir, uma vez dadas as condições adequadas? Embora não saibamos a data com certeza, na Terra a vida surgiu muito cedo, provavelmente há cerca de 3,8 mil milhões de anos. Isso, num planeta que se formou há 4,6 mil milhões de anos e que inicialmente sofreu duas violentas ondas de bombardeamentos de meteoritos, parece um recorde; e nos faz pensar que o caminho para a vida talvez não seja tão difícil. Uma vez que a vida surge, a evolução biológica facilita a sua adaptação a diversos ambientes, dotando-a de uma grande resiliência. Prova disso são os extremófilos, organismos capazes de viver em condições extremas de temperatura, acidez ou radiação. Ainda não conhecemos os limites físico-químicos da vida, mas o que parece claro é que ela não carece de recursos para se expandir e persistir.

Graças à evolução, os seres vivos também aumentam em complexidade. Assim surgiram na Terra os organismos multicelulares, as plantas, os animais e, entre eles, a espécie que durante muito tempo foi considerada o culminar da evolução: o ser humano. Mas hoje sabemos que o nosso ramo na árvore da vida é apenas mais um, e que poderia até não ter surgido. Sabemos também que a inteligência não é o fim último da evolução, mas apenas mais uma possibilidade. Portanto, a existência de civilizações tecnológicas não é um desfecho garantido após o surgimento da vida num planeta. Resta considerar quanto tempo pode durar uma civilização dotada de inteligência. No nosso caso, em apenas algumas décadas, alterámos o clima, poluímos os oceanos, enfraquecemos a camada de ozono e provocámos inúmeras extinções.

Além disso, desenvolvemos armas capazes de nos destruir. Talvez, na sua tentativa de melhorar a sua qualidade de vida, qualquer espécie inteligente acabe por tornar o seu próprio planeta inabitável. Em resumo, a questão permanece em aberto. A combinação de dados astronómicos, biológicos e ecológicos aproxima-nos cada vez mais de uma resposta, embora ainda não possamos falar de estatísticas. E talvez o mais valioso dessa busca não seja apenas descobrir se estamos sozinhos, mas refletir sobre a nossa própria civilização: sua fragilidade, seu potencial e seu lugar no universo

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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