O estudo de fósseis tem oferecido, durante décadas, informações cruciais sobre a vida no passado, mas poucas descobertas permitem observar organismos minúsculos presos em resina há milhões de anos. A região amazônica do Equador revelou recentemente insetos em âmbar que viveram no Cretáceo, um período em que os dinossauros ainda vagavam pelo planeta. Esses fragmentos encontrados na pedreira Genoveva revelam não apenas detalhes de sua morfologia, mas também das interações ecológicas iniciais entre plantas e polinizadores. A preservação excepcional desses fósseis permite analisar a biodiversidade e reconstruir os ecossistemas de uma maneira que não é possível com fósseis tradicionais.
Como são os insetos em âmbar que foram encontrados e que coexistiram com os dinossauros?
O âmbar é resina fossilizada proveniente de árvores como as coníferas da família Araucariaceae. No Equador, os investigadores recuperaram centenas de fragmentos de âmbar que contêm insetos e restos vegetais de aproximadamente 112 milhões de anos atrás. A análise dos insetos no âmbar permite identificar espécies primitivas de polinizadores que coexistiam com as primeiras angiospermas. Assim, a descoberta fornece evidências diretas de como se desenvolviam as relações ecológicas entre plantas e animais nas florestas do Cretáceo.
O que hoje é uma floresta tropical úmida era, durante o Cretáceo, um ecossistema dominado por coníferas e samambaias. A formação Hollín, onde se localizava a pedreira Genoveva, contém restos de espécies de árvores que já não existem na Amazônia moderna, como a araucária do quebra-cabeças do macaco. Estudos de pólen e folhas fossilizadas indicam que muitas das plantas pertenciam a Gondwana, o antigo supercontinente que incluía a América do Sul, África e Austrália. Os insetos em âmbar mostram que as interações predador-presa e a polinização já estavam estabelecidas, o que evidencia um ecossistema complexo e estruturado.
Quais foram os insetos em âmbar identificados?
Entre os insetos em âmbar destacam-se mosquitos não hematófagos, vespas parasitóides, besouros raros e moscas de pernas longas. Apesar de medirem apenas alguns milímetros, esses fósseis permitem inferir a diversidade de espécies e seu papel na polinização. Os investigadores apontam que alguns mosquitos encontrados podem ter picado dinossauros, embora essa hipótese permaneça como um dado ecológico e não como evidência direta. Além disso, as teias de aranha fossilizadas revelam relações predador-presa e confirmam a existência de uma rede trófica complexa nessas florestas antigas.
Aspectos geológicos e químicos do âmbar equatoriano
O âmbar da formação Hollín contém hidrocarbonetos do petróleo que ajudaram a conservar a resina e suas bioinclusões durante milhões de anos. Análises isotópicas e espectroscópicas confirmam que a fonte da resina eram coníferas da família Araucariaceae, um grupo que em outras regiões já estava em declínio durante o Cretáceo.
Tipos de âmbar e sua composição química
Na pedreira, onde o estudo foi realizado, foram identificados dois tipos de âmbar:
- Âmbar de raízes: grandes fragmentos subsféricos ou em forma de rim, formados sob condições confinadas, geralmente sem bioinclusões.
- Âmbar aéreo: peças menores, estalactíticas, muitas com insetos e restos vegetais.
O contato prolongado com hidrocarbonetos do subsolo alterou a composição química da resina, conservando os restos presos. As análises FTIR (Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier) mostram grupos funcionais como ésteres, álcoois e éteres que permitem estudar a interação entre a resina e os compostos orgânicos circundantes, confirmando que as árvores produtoras pertenciam à família Araucariaceae.
Flora fóssil e condições do paleoambiente
Os restos vegetais do sítio incluem samambaias, cicadáceas, araucariáceas e folhas das primeiras angiospermas, o que indica um ecossistema úmido e diversificado. Por sua vez, a análise de pólen e macrofósseis sugere que as coníferas dominavam a floresta, enquanto as plantas com flores começavam a ocupar clareiras no sub-bosque.
Por último, a presença de insetos aquáticos, como tricópteros e quironomídeos, confirma a existência de corpos d’água e umidade constante. Até esta descoberta, a maioria dos depósitos de âmbar com bioinclusões se encontrava no hemisfério norte. A descoberta no Equador constitui, assim, o registro mais significativo de insetos em âmbar do Cretáceo na América do Sul, oferecendo evidência direta da biodiversidade das florestas de Gondwana.