O túmulo de Tutankhamon pode estar prestes a desmoronar

Especialistas alertam que, sem medidas de contenção, o túmulo corre o risco de sofrer danos irreversíveis É, provavelmente, o túmulo mais famoso do mundo, tanto pela lenda por trás da sua descoberta quanto pela sua proveniência. O túmulo do jovem faraó Tutankhamon — oficialmente conhecido pela sua chave técnica de escavação como KV62 —, escavado durante a XVIII Dinastia no vale com o mesmo nome, enfrenta hoje uma ameaça pouco visível, mas muito séria: uma instabilidade estrutural agravada pela combinação da geologia do ambiente e do impacto da água.

Uma investigação recente publicada na revista npj Heritage Science e assinada pelo investigador Sayed Hemeda, da Universidade do Cairo, revela que os tetos das câmaras principais apresentam «fatores de segurança muito baixos» e tensões extremas, o que deixa a abóbada vulnerável a desmoronamentos ou colapsos. Os autores do estudo indicam que a tumba foi escavada dentro da formação de xisto de Esna, uma rocha particularmente frágil que reage adversamente à água: em condições húmidas, a sua resistência e rigidez diminuem drasticamente.

A situação é agravada pela sua localização: o túmulo está situado numa posição baixa, propensa a inundações, e é atravessado por uma enorme falha geológica que corta longitudinalmente a antecâmara e a câmara funerária. De acordo com o relatório, episódios de chuvas intensas e fluxos repentinos de água — como um registrado em 1994 — causaram infiltrações que não só aumentam a umidade interna, mas também geram deformações por flexão e torção nos tetos. O efeito combinado do peso da rocha superior (sobrecarga) e da perda de coesão da rocha afetada pela água gera um processo de assentamento e desconexão superficial.

Quando o teto está sob tensão e a rocha saturada excede a sua resistência à tração, ocorre a delaminação das camadas superficiais e, em última instância, fraturas por compressão no núcleo da estrutura. Além disso, a parte central do teto, junto à falha, assenta mais rapidamente do que as áreas posteriores, o que induz uma deformação na forma de inclinação para a frente.

Diante desse cenário, os investigadores propõem uma intervenção urgente: eles apontam que, para conservar o monumento, é essencial reduzir as flutuações de umidade, controlar a circulação de ar para o interior e executar um programa de reforço específico para estabilizar a abóbada. Em outras palavras, sem medidas de contenção, a tumba — não apenas um tesouro arqueológico, mas um símbolo mundial — corre o risco de sofrer danos irreversíveis. Para conservar o monumento, é essencial reduzir as flutuações de humidade

Para proteger o interior da tumba, os autores sublinham que o controlo da água, tanto superficial como subterrânea, deve ser prioritário. É necessário garantir que as infiltrações através das fissuras sejam bloqueadas e que os materiais externos que suportam a estrutura sejam consolidados. Além disso, recomenda-se limitar a exposição aos visitantes e modificar as condições do microclima interno para evitar que a humidade aumente ao abrir portas ou janelas. Se essas considerações não forem seguidas, é provável que os viajantes ansiosos por ver a tumba mais famosa (embora não a mais impressionante) do Vale dos Reis, num futuro não muito distante, só possam fazê-lo a partir de visitas virtuais em 3D.

Alisia Pereira/ author of the article

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