O tédio dos animais de estimação afeta sua saúde e comportamento, segundo especialistas

Veterinários recomendam incorporar brincadeiras, rotinas variadas e ambientes interativos para evitar que cães, gatos, pássaros e outros animais de estimação desenvolvam stress e doenças O tédio nos animais de estimação pode causar desde comportamentos destrutivos até problemas de saúde, como excesso de peso e automutilação.

Veterinários e especialistas alertam que o tédio nos animais de estimação está a gerar efeitos negativos tanto no seu bem-estar como na convivência com as suas famílias. Cães que desenvolvem comportamentos estranhos, gatos mais destrutivos do que antes, aves que gritam sem parar e até peixes apáticos podem estar a indicar a mesma causa: falta de estimulação mental e sensorial.Pode interessar-lhe:Os casais mais felizes partilham estas cinco chaves, de acordo com um novo estudo psicológico

A situação não afeta apenas a saúde física e emocional dos animais; também pode alterar a dinâmica familiar e deteriorar o vínculo afetivo. “O tédio, derivado da falta de estimulação mental ou de oportunidades para controlar aspectos do seu ambiente, provoca frustração ou stress nos animais de estimação, o que pode causar problemas de saúde”, afirma Ragen McGowan, cientista especialista em comportamento e bem-estar animal da Purina, em entrevista ao The Washington Post.

Os sinais variam de acordo com a espécie. Nos cães, os sinais de falta de enriquecimento incluem comportamentos destrutivos ou repetitivos, como morder móveis, cavar, perseguir o rabo, andar em círculos ou lamber-se excessivamente. Eles também podem procurar atenção através de latidos excessivos, tentativas de fuga ou uma necessidade persistente de companhia. «Eles procuram insistentemente atenção e mostram comportamentos como lamber as suas pernas», acrescenta McGowan. Variar as rotinas e os espaços, e incluir jogos e atividades diárias, ajuda a prevenir o stress e a ansiedade em todas as espécies domésticas.

Nos gatos, o tédio pode apresentar-se com um tom mais agressivo: arranhar móveis, arrancar o pelo, lamber insistentemente uma área, mostrar agressividade ou exagerar na procura de atenção. «Outro sinal de stress por tédio é a eliminação fora da caixa de areia, como urinar ou defecar em locais inadequados», explica a veterinária Antje Beth-Joslin, consultora da Dogtopia ao The Washington Post. Ela também aponta que o sono excessivo pode indicar tédio, embora os gatos costumem dormir entre doze e dezasseis horas por dia.

As aves também não estão isentas. «Os papagaios e outras aves, por serem altamente inteligentes, sofrem muito com o tédio», afirma Beth-Joslin. Os sintomas incluem arrancar as penas, gritos intensos e comportamentos repetitivos, como balançar-se ou andar em círculos. «As aves entediadas podem desenvolver agressividade se não tiverem um ambiente enriquecido», adverte.

Mesmo os animais mais pequenos, como coelhos, porquinhos-da-índia, hamsters e petauros-do-açúcar, bem como répteis e anfíbios, precisam de estímulos: «embora as suas necessidades cognitivas sejam diferentes, o enriquecimento continua a ser importante», afirma Erin Tate, vice-presidente de desenvolvimento clínico da CityVet. Para os peixes, por exemplo, um aquário sem estímulos pode induzir letargia ou stress. Brinquedos interativos e quebra-cabeças dispensadores de comida ativam o instinto natural de caça e resolução de problemas em gatos e cães.

Como manter os animais de estimação a salvo do tédio

Existem várias alternativas para oferecer estimulação mental e sensorial adequada a cada espécie. Tate recomenda uma variedade de atividades e ferramentas para gatos: “os comedouros interativos e brinquedos dispensadores de guloseimas fomentam a resolução de problemas e estimulam o seu instinto de caça”. Ele também sugere instalar cabides junto às janelas ou estações de observação para estimular a sua curiosidade, esconder comida pela casa e projetar vídeos específicos para felinos com imagens de pássaros ou peixes.

McGowan diferencia entre decorar com objetos e oferecer verdadeiro enriquecimento: “não basta adicionar coisas bonitas; para que sejam enriquecedoras, devem ser objetos, atividades, aromas ou sons com os quais o animal realmente interaja”. Para os cães, segundo Tate, “atividades como tapetes olfativos, brinquedos Kong e quebra-cabeças que dispensam comida ativam o olfato e as habilidades cognitivas”. Entre as recomendações estão passeios regulares, jogos de busca, atividades aquáticas e até breves sessões de treino lúdico: «as sessões de jogo combinadas com treino são essenciais para o exercício físico e a estimulação mental ao explorar novos ambientes», explica. «Os papagaios e outras aves sofrem muito com o tédio», afirma a especialista Antje Beth-Joslin sobre a importância do entretenimento.

No caso das aves, Tate sugere introduzir brinquedos para forragear, mudar o design da gaiola e variar os poleiros, além de incluir música ou espelhos. Em peixes, plantas e esconderijos contribuem para o bem-estar. Os pequenos mamíferos gostam de túneis, brinquedos para roer, caixas para cavar e quebra-cabeças de comida. É recomendável que espécies sociais, como sugar gliders e coelhos, vivam acompanhadas.

O compromisso diário com o animal de estimação é fundamental para evitar o tédio. Beth-Joslin enfatiza: “o tédio não é benigno; além dos problemas de saúde, as alterações comportamentais podem enfraquecer o vínculo humano-animal”. O tempo compartilhado não pode se limitar ao descanso no sofá. “Para manter os cães entretidos e mentalmente ativos, é fundamental um equilíbrio entre atividades lúdicas e interativas”, afirma Tate.

Recomenda-se aos donos de gatos pelo menos duas ou três sessões curtas de brincadeiras por dia. Os cães adultos precisam de meia hora a duas horas por dia, dependendo da raça, idade ou saúde. A interação verbal e as atividades conjuntas são necessárias mesmo para aves e pequenos mamíferos. Os especialistas insistem que os animais precisam de humanos ativos no seu dia a dia. O segredo está em reconhecer os sinais de tédio, aplicar estratégias de enriquecimento e transformar o ambiente para garantir não só a saúde física dos animais de estimação, mas também o equilíbrio emocional e o fortalecimento do vínculo com os seus cuidadores.

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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