Cada vez mais pessoas confessam que se sentem desconfortáveis quando alguém entra na sua casa, mesmo que sejam familiares ou amigos próximos. Numa sociedade que valoriza a sociabilidade e a disponibilidade constante, reconhecer que não gosta de receber visitas pode gerar desconforto ou culpa. No entanto, nos últimos anos, milhares de utilizadores nas redes sociais têm partilhado esse mesmo sentimento: a sua casa é um espaço sagrado que não querem partilhar o tempo todo.
O desconforto de receber visitas, especialmente de forma inesperada, não está relacionado com a falta de afeto pelos outros. A psicologia interpreta isso como uma necessidade de proteção emocional. Carl Jung já havia explicado isso em suas teorias de personalidade: enquanto alguns se nutrem do contato social constante, outros precisam do silêncio e da solidão para recarregar as energias. Este último grupo encontra em sua casa um refúgio emocional, um lugar onde não precisam manter conversas forçadas, sorrir por compromisso ou servir café sem vontade.

O lar como refúgio íntimo
Abrir a porta da sua casa nem sempre significa abrir apenas um espaço físico: para muitos, representa abrir uma parte do seu mundo interior. Por isso, receber visitas pode parecer uma invasão energética, especialmente quando a pessoa está a passar por um processo de cura, reorientação pessoal ou simplesmente descanso. A psiquiatra Marian Rojas lembra que não querer receber visitas não é egoísmo, mas autocuidado. Longe de ser um ato de egoísmo, essa reação é uma forma de cuidar de si mesmo. Como diz Rojas: “Você não está sendo egoísta, está sendo sábio”.
É ruim não querer receber visitas?
A sociedade atual premia a hiperdisponibilidade: estar disponível para todos, o tempo todo. No entanto, a psicologia alerta que esse comportamento pode se tornar uma armadilha, porque afasta a pessoa de suas próprias necessidades. Para Marian Rojas, dizer «não» a uma visita não significa rejeitar alguém, mas sim priorizar o seu bem-estar emocional. Ter um «ermitão interior» que pede calma e silêncio não é um sinal de isolamento patológico, mas sim um apelo para encontrar equilíbrio. O direito de reservar o seu espaço e o seu tempo faz parte do autocuidado. Ao tentar agradar aos outros, existe o risco de se abandonar a si mesmo.
O autocuidado como prioridade
Não querer receber visitas não implica isolar-se completamente, mas aprender a identificar em que momentos precisa de calma e quais está disposto a partilhar. A chave, segundo Rojas, está em saber comunicar limites com clareza e criar pequenos rituais de calma que o tragam de volta ao centro. Aprender a dizer «não» e estabelecer limites é fundamental para uma vida mais equilibrada.

Algumas práticas úteis são:
- Comunicar com honestidade: dizer «hoje não posso» ou «preciso de descansar» sem culpa.
- Criar espaços de pausa: dedicar momentos do dia só para si.
- Respeitar a sua energia: não forçar reuniões quando o seu corpo pede silêncio.
O valor da autenticidade
Num mundo onde o ruído predomina, aprender a respeitar a necessidade de silêncio pode ser um ato de coragem. Nem todas as pessoas encontram consolo na agitação; muitas encontram o seu verdadeiro descanso em casa, sem visitas, sem planos e sem explicações. A mensagem final da psicologia é clara: não existe uma única maneira de se relacionar com os outros. Para alguns, o silêncio é cura; para outros, é vazio. Ambas as realidades são válidas e merecem respeito.
Se és uma daquelas pessoas que prefere não receber visitas em casa, a psicologia lembra-te algo importante: não há nada de errado contigo, simplesmente funcionas de maneira diferente. A tua casa é o teu refúgio, o teu espaço íntimo e o teu lugar de recarga. Não é frieza, não é rejeição, é autocuidado. Deixar de se desculpar por precisar de calma é dar um passo em direção a uma vida mais autêntica, onde o seu bem-estar tem o mesmo valor que qualquer compromisso social. Caso queira mudar esse comportamento, recomenda-se começar com pequenas ações, pequenos passos que não sejam abruptos. Por exemplo, convidar uma pessoa (e não um grupo maior)
