Descoberta histórica: símbolos de há 40.000 anos podem constituir a primeira forma de linguagem escrita

Durante décadas, a história da escrita humana centrou-se na Mesopotâmia e nas suas tábuas cuneiformes, datadas de aproximadamente 5.400 anos atrás. Essas peças de argila gravadas com sinais foram a base da administração, do comércio e da transmissão de conhecimento nas primeiras cidades-estado. A sua influência se estendeu por milénios e marcou um ponto de inflexão na organização social, pois graças a ela era possível registrar textos administrativos, religiosos, literários, científicos, etc. No entanto, algumas descobertas sugerem que a origem da comunicação escrita pode ser muito mais antiga do que se pensava. Quer saber qual é?

Símbolos pré-históricos de 40 000 anos: evidência da primeira linguagem escrita humana

Algumas pesquisas citadas pela Open Culture identificaram um conjunto de símbolos abstratos que poderiam representar o primeiro sistema de comunicação humana. A paleoantropóloga Genevieve von Petzinger dedicou anos ao estudo desses sinais, visitando 52 cavernas na França, Itália, Espanha e Portugal. A sua análise revela que os antigos habitantes europeus não só pintavam animais nas paredes, mas também desenvolveram uma linguagem simbólica coerente.

Von Petzinger catalogou 32 símbolos recorrentes, incluindo pontos, linhas, triângulos, ziguezagues, escadas, moldes de mãos e figuras mais complexas, como tectiformes, penniformes e até marcas semelhantes a uma hashtag moderna. A uniformidade destas formas ao longo do tempo sugere que elas podem ter sido um legado cultural trazido pelos humanos modernos da África durante as suas migrações para a Europa.

Significado cognitivo e cultural dos símbolos pré-históricos

O estudo desses símbolos levanta uma reflexão sobre as capacidades cognitivas dos nossos antepassados. Segundo Von Petzinger, esse sistema de sinais reflete uma mudança significativa na maneira de pensar, usando a abstração para comunicar ideias. Alguns desses símbolos foram encontrados gravados em objetos pessoais, como colares feitos com dentes de veado, o que sugere que seu uso não se limitava às paredes das cavernas.

A linguista Cora Lesure, do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), apoia esta visão, indicando que a arte rupestre requer habilidades cognitivas semelhantes às necessárias para a linguagem, o que poderia situar estes sinais como uma forma primitiva de comunicação escrita.

Debate científico sobre a função e origem dos símbolos antigos

Apesar da sua antiguidade e consistência, a função exata desses símbolos continua sendo objeto de debate. Jean Clottes, um popular pré-historiador, argumenta que os sinais estavam associados principalmente a representações de animais, questionando sua consideração como linguagem escrita independente. Outros críticos sustentam que a semelhança formal não garante um significado comum e que as figuras podem simplesmente responder a uma estética comum.

No entanto, a persistência destes símbolos durante milhares de anos e a sua presença em numerosas regiões da Europa reforçam a hipótese de um sistema de comunicação coerente. Alguns investigadores comparam a sua consistência com a dos emojis modernos, o que os coloca como possíveis precursores da escrita contemporânea. Se as teorias de Von Petzinger e Lesure forem confirmadas, este seria o sistema de escrita mais antigo e duradouro da humanidade.

Alisia Pereira/ author of the article

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