As incineradoras estão a crescer tanto na Europa que estão a tornar-se um problema. A má notícia é que não sabemos como resolver isso.

Em 2018, a China provocou uma crise no mundo dos resíduos. A Europa respondeu queimando-os: o remédio pode ser pior do que a doença. «Todos os anos produzimos 2 mil milhões de toneladas. Estão por todo o lado, mas como é algo repugnante, não pensamos nisso.» Foi o que disse Oliver Franklin-Wallis, autor do excelente «Vertedero» (Capitan Swing, 2025) e tem razão.

O que acontece é que na Europa nos obrigaram a pensar nisso. E a China fez isso. Em 2018, a China deixou metade do mundo de fora e se cansou de ser o aterro sanitário dos países desenvolvidos. Isso pode surpreender muitos, sob os discursos grandiloquentes de “revolução verde” e cuidado com o meio ambiente, o que havia era basicamente empacotar tudo o que gerávamos e enviar para a China.

Até que, como eu disse, Pequim disse «basta». E não foi uma piada. Durante 2019, a importação de plásticos do país asiático caiu 99%, a de papel 30% e a de alumínio e vidro cerca de 20%. Só se tivermos em conta que 95% dos plásticos europeus e 70% dos norte-americanos acabavam lá, podemos compreender a magnitude do problema.

Procuramos uma saída, claro. Nos anos seguintes, milhões de toneladas de lixo foram redirecionadas para o Golfo da Guiné, para o sudeste asiático e, basicamente, para qualquer lugar que estivesse disposto a aceitá-las. Mas todos sabíamos que o problema era estrutural: durante décadas, desmantelámos o sistema continental de reciclagem. Ou seja, não tínhamos capacidade para assumir isso.

E, embora a Comissão Europeia tenha considerado vários planos (desde impulsionar a criação de fábricas de reciclagem em todo o continente para «gerar empregos e assumir a responsabilidade pelos seus próprios resíduos» até «convencer» o mercado com impostos que penalizam os produtos criados com plásticos novos), a verdade é que só restava enterrar o lixo ou queimá-lo. De facto, atualmente, queimamos cerca de «60 milhões de toneladas de resíduos urbanos».

E isso preocupa muitos. Tanto que, nos últimos dias, mais de 150 organizações pediram à União Europeia “uma moratória em toda a UE sobre as novas incineradoras de resíduos (R1 e D10), juntamente com estratégias de redução gradual da capacidade de incineração existente e um aumento do investimento em infraestruturas de economia circular, como sistemas de reutilização, compostagem e tecnologias de reciclagem”.

Não é por acaso. Todos os que estão a par do problema sabem que, sem pressões, a expansão da incineração irá crescer. E isso terá consequências climáticas (segundo os últimos estudos, gera mais carbono do que os combustíveis fósseis), mas também sanitárias. A questão é se temos alternativa. E, sinceramente, não é claro. A Europa está cada vez mais encurralada e o que antes nos parecia respostas impossíveis começa a tornar-se saídas razoáveis. «Incinar como se não houvesse amanhã» começa a estar nessa categoria de coisas. Parar isso vai ser complicado.

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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