A população de baleias francas do Atlântico Norte está a aumentar lentamente

Cientistas relatam um crescimento discreto na quantidade de exemplares desta espécie em perigo crítico, atribuindo o avanço às medidas de proteção e monitorização implementadas nos Estados Unidos e no Canadá Nos últimos anos, os investigadores observaram avanços discretos, mas significativos, na população de baleias francas do Atlântico Norte, uma espécie emblemática gravemente ameaçada. De acordo com dados recentes publicados pelo Consórcio de Baleias Francas do Atlântico Norte, o número total desses mamíferos aumentou para 384 indivíduos. Esse aumento representa um sinal de esperança moderada para os cientistas, que veem nesse crescimento o resultado de ações voltadas para a proteção e o monitoramento contínuo da espécie.

A celebração de um ano sem mortalidade registada e a incorporação de quatro novas fêmeas reprodutoras à população reveste-se de especial relevância, uma vez que representa um aumento das possibilidades de perpetuidade da espécie no oceano Atlântico Norte. Um elemento fundamental tem sido o acompanhamento exaustivo dos nascimentos: no ciclo mais recente, foram contabilizados 11 filhotes. Embora o número esteja abaixo das expectativas do consórcio, o aparecimento de mães primárias e repetidas ilustra um padrão reprodutivo encorajador. A soma dessas novidades gerou entre os especialistas uma esperança cautelosa sobre o futuro da baleia franca na região.

Sobre este aumento, Heather Pettis, presidente do Consórcio das Baleias Francas do Atlântico Norte, afirmou: «O ligeiro aumento na estimativa da população, juntamente com a ausência de mortalidade detetada e um número menor de lesões detetadas do que nos últimos anos, deixa-nos com um otimismo cauteloso sobre o futuro das baleias francas do Atlântico Norte». E acrescentou: «O que vimos anteriormente é que esta população pode mudar de rumo num instante».

Principais ameaças à espécie e medidas de proteção implementadas

As colisões com embarcações e os emaranhamentos em artes de pesca continuam a ser as principais ameaças para a baleia franca As baleias francas do Atlântico Norte enfrentam vários perigos graves que têm pressionado a sua sobrevivência nas últimas décadas. Entre os mais determinantes estão as colisões com embarcações e os emaranhamentos em artes de pesca abandonadas ou ativas. Esses acidentes representam as causas mais frequentes de ferimentos graves e mortalidade na população e afetam diretamente a taxa reprodutiva e a sobrevivência da espécie.

Diante desse cenário, foram adotadas importantes medidas de conservação nos Estados Unidos e no Canadá. O impacto positivo dessas estratégias reflete-se na redução tanto das mortes quanto dos ferimentos, em comparação com períodos anteriores. O relatório do consórcio atribui a recuperação populacional, pelo menos em parte, a esses esforços de proteção. Exemplos disso são as restrições de velocidade para barcos em zonas de alta concentração de baleias e a revisão dos sistemas de pesca para minimizar o risco de emaranhamento. No Golfo de São Lourenço, no Canadá, onde se observam movimentos frequentes desses animais, a regulamentação e a vigilância têm se mostrado eficazes para salvar vidas.

Philip Hamilton, cientista sénior do Centro Anderson Cabot para a Vida Oceânica do Aquário da Nova Inglaterra, destacou a importância de manter e fortalecer esses esforços: “Sabemos que um aumento modesto a cada ano, se conseguirmos mantê-lo, provocará um crescimento populacional”. No entanto, ele matizou: “A questão é se conseguiremos mantê-lo ou não”. Os especialistas insistem na necessidade de fortalecer ainda mais as regulamentações, pois qualquer relaxamento nas políticas de proteção poderia reverter os avanços alcançados nos últimos anos.

História da caça e proteção legal da baleia franca

As baleias francas do Atlântico Norte habitam estas águas há séculos e foram presas fáceis para os baleeiros desde o século XVIII. O seu grande tamanho, o hábito de nadar perto da costa e a flutuabilidade após serem caçadas tornaram-nas alvo prioritário da pesca comercial. Essa exploração descontrolada provocou uma diminuição drástica da população, levando-a à beira da extinção.

Durante quase duzentos anos, a caça intensiva continuou, deixando a espécie em uma situação crítica. Somente em 1982, a instauração de uma proibição internacional à caça comercial de baleias significou uma mudança fundamental. A partir daí, as leis federais dos Estados Unidos e do Canadá ofereceram uma proteção legal à baleia franca, reforçando a proibição da sua caça e incentivando a investigação para a sua conservação. Esta proteção jurídica marcou o início de uma lenta recuperação, mas as sequelas da exploração histórica continuam a afetar o crescimento populacional.

Dados recentes sobre reprodução e migração da espécie

No período mais recente, foram documentados 11 nascimentos, com a particularidade de que participaram tanto mães novas como aquelas que já tinham dado à luz anteriormente. Outro indício positivo revelado pelos investigadores é a redução do intervalo entre partos em algumas fêmeas, o que pode favorecer a recuperação a médio prazo, se a tendência se mantiver.

A baleia franca apresenta uma migração sazonal característica: ela se desloca de suas áreas de reprodução, localizadas perto da costa da Flórida, para águas mais frias no nordeste dos Estados Unidos e Canadá, em busca de alimento. Esse deslocamento as expõe a inúmeros riscos, principalmente durante sua passagem por rotas marítimas congestionadas, onde o perigo de colisão ou captura acidental continua presente. O acompanhamento por satélite e as observações periódicas permitiram aos cientistas aperfeiçoar as estratégias de proteção adaptadas aos padrões migratórios destas baleias, maximizando assim a eficácia das zonas e períodos de restrição para embarcações e atividades pesqueiras.

Perspectivas e desafios para a recuperação da população

Apesar dos tímidos avanços, o futuro da baleia franca do Atlântico Norte continua incerto. Os especialistas alertam que a recuperação, embora sistemática e encorajadora, pode ser facilmente revertida se as medidas de gestão e vigilância forem relaxadas. O potencial de crescimento populacional existe, mas depende da permanência e do reforço das políticas de proteção.

A persistência de ameaças como a pesca intensiva e o aumento do tráfego marítimo obriga a manter a atenção nas estratégias de gestão, bem como a investir em tecnologia e legislação que reduza os riscos humanos para a espécie. Philip Hamilton salienta: «Sabemos que um aumento modesto a cada ano, se conseguirmos mantê-lo, provocará um crescimento populacional», mas adverte: «A questão é se conseguiremos mantê-lo ou não». Estes dados confirmam que, embora o caminho para a recuperação seja longo, a cooperação internacional e a constância nas políticas de proteção são essenciais para garantir o futuro da baleia franca do Atlântico Norte.

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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