Especialistas da Universidade da Finlândia Oriental utilizaram câmaras hiperespectrais, digitalização 3D e algoritmos avançados para descobrir novas figuras e criar réplicas digitais deste local. Como essa inovação fortalece a preservação e o acesso internacional à arte pré-histórica Um alce antigo observa o horizonte a partir da rocha Astuvansalmi, na margem do lago Joves, enquanto uma equipa de investigadores utiliza tecnologias de visualização avançadas para revelar os segredos milenares escondidos na rocha. Durante uma recente viagem de trabalho, os cientistas descobriram três novas imagens potenciais em três horas, o que ilustra o impacto da da digitalização e da digitalização 3D na documentação e preservação das pinturas rupestres deste local emblemático na Finlândia.
O projeto, coordenado por Weikko Miettinen, da Universidade da Finlândia Oriental, utilizou câmaras hiperespectrais e scanners 3D para analisar com precisão os pigmentos e as formas das pinturas. Miettinen explicou que, com essa técnica, é possível distinguir pelo menos três tons diferentes de vermelho a olho nu, mas a câmara hiperespectral permite destacar e estudar cada tom em detalhes. «Hoje estamos a testar uma tecnologia de visualização totalmente nova, que até recentemente não existia», afirmou ele num comunicado de imprensa publicado pela instituição, salientando que o objetivo é identificar os diferentes pigmentos e determinar a sua composição e idade.

A documentação do penhasco de Astuvansalmi é feita através de uma combinação de métodos: fotografia panorâmica GigaPan, digitalização com um sistema de três câmaras instaladas num suporte extensível e utilização do scanner 3D Matterport. Embora a superfície curva da rocha e a presença de musgo dificultem o processo, os investigadores conseguiram criar uma réplica digital deste local, guardando todos os dados num servidor na nuvem. Essa cópia digital permite visualizar os desenhos nos mínimos detalhes a partir de qualquer computador, o que representa um salto qualitativo em relação aos métodos tradicionais, que ofereciam apenas três canais de cor, em comparação com as centenas que a tecnologia hiperespectral oferece agora.
Rami Saarikorp, da empresa 360Finland, é responsável pela digitalização 3D e observa que, com a técnica de renderização 3D Gaussian Splatting, é possível criar modelos tridimensionais precisos da área e determinar com exatidão as cores da superfície. A análise espectral mede as propriedades óticas da rocha na faixa visível e infravermelha próxima, embora a captura de uma imagem detalhada possa levar vários minutos. A equipa também usa tecnologia de videojogos para simular o nível da água na antiguidade, quando o lago Saimaa estava em um nível mais alto. Essa recriação digital ajuda a determinar possíveis locais para novas pinturas, já que os artistas antigos trabalhavam em barcos ou no gelo. Miettinen explicou que, embora a coleta de amostras de tinta para datação não seja permitida, a análise de pigmentos e a comparação de tons permitem tirar conclusões sobre a relação entre as imagens e as tribos que as criaram. Os investigadores reproduziram em laboratório várias misturas de pigmentos que provavelmente incluíam clara de ovo, gordura ou sangue como aglutinantes.

A inteligência artificial foi adicionada às ferramentas de análise, abrindo novas possibilidades para identificar padrões e motivos perdidos ao longo do tempo. Dmitry Semenov, diretor de investigação da Universidade da Finlândia Oriental, explicou que as redes neurais permitem calcular e prever semelhanças entre os motivos de Astuvansalmi e outros locais, como Alta e Murmansk, onde predominam figuras humanas, armas e animais. A análise dos dados pode levar até um ano e é realizada com a participação de estudantes de pós-graduação cujas dissertações e teses já são dedicadas a esses temas. No entanto, o uso da inteligência artificial para interpretar pinturas rupestres é controverso. O professor Kimmo Katayala alertou para os riscos de usar algoritmos treinados com dados de outras culturas para «preencher lacunas» nos motivos existentes. Segundo Katayala, a IA reproduz o que aprendeu e, se os dados para o treino corresponderem a diferentes contextos culturais ou técnicos, isso pode levar a erros na interpretação e complementação das imagens.
A preservação digital das pinturas rupestres ganha especial relevância devido à ameaça da erosão e ao passar do tempo. Nem todos podem visitar fisicamente este local, mas a digitalização e o armazenamento na nuvem garantem acesso global e preservação a longo prazo. Semenov destacou que, graças à realidade virtual, os visitantes dos museus podem explorar cópias tridimensionais dos locais originais, como já acontece no Museu Regional de Murmansk, onde é possível interagir com a arte pré-histórica através de óculos de realidade virtual. Assim, o trabalho dos investigadores e o uso de tecnologias de ponta garantem que o património de Astuvansalmi permaneça acessível para as gerações futuras, reforçando a acessibilidade universal desse património cultural.
