80% das habitações têm instalações elétricas obsoletas. Sem uma reforma prévia, a transição energética pode ficar apenas na promessa “O inverno está a chegar”, dizia a frase icónica da família Stark em Game of Thrones. Faltam menos de dois meses para a chegada oficial do inverno e, com ele, o momento de ver como a nossa conta de energia treme tanto quanto nós. Procurar fórmulas para aquecer a casa torna-se imperativo nesta reta final do ano, especialmente quando o aquecimento continua a ser um dos principais motivos para o aumento do consumo de eletricidade. A cada temporada surgem novas promessas tecnológicas para manter o conforto sem esvaziar o bolso, e a aerotermia tornou-se uma das mais populares.
O auge da aerotermia. Esta tecnologia funciona de uma forma muito simples: aproveita a energia que já está no ar exterior para aquecer ou arrefecer a casa e produzir água quente. Em vez de gerar calor queimando gás ou consumindo grandes quantidades de eletricidade, este sistema «extraia» do ambiente e multiplica-o.
Na prática, isto significa que, por cada quilowatt de eletricidade que precisa para funcionar, a aerotermia pode produzir até cinco de calor ou frio útil. Enquanto um radiador ou uma caldeira convertem energia em calor de forma direta, a aerotermia faz algo mais inteligente: extrai o calor do ar e multiplica-o. De acordo com os arquitetos consultados pela Arquitectura y Diseño, calcula-se que, numa habitação de tamanho médio, essa diferença pode traduzir-se numa poupança de até 35% ao ano, desde que a casa esteja bem isolada e o clima acompanhe. Para o bolso, isso traduz-se em cerca de 100 a 130 euros a menos na conta anual.

Então, nem todas as casas estão preparadas? Embora pareça uma tecnologia perfeita, os arquitetos alertam que nem todas as casas podem aproveitar a aerotermia em igualdade de condições. Na verdade, há vários fatores que diminuem a sua eficácia: o tipo de habitação, o seu isolamento, a localização e as necessidades energéticas específicas. Em climas mediterrânicos, por exemplo, onde o design passivo permite alcançar o conforto térmico sem sistemas ativos, «não faz sentido utilizar a aerotermia como sistema principal de aquecimento ou refrigeração».
Por outras palavras, instalar aerotermia sem avaliar previamente a habitação pode ser como comprar um carro elétrico sem ter uma tomada em casa. Os especialistas em arquitetura sustentável insistem que é necessário primeiro reduzir a procura energética e otimizar a habitação antes de apostar em tecnologias avançadas. O estado das instalações elétricas é outro dos grandes obstáculos à eletrificação do parque residencial. O Observatório da Reabilitação Elétrica da Habitação avisa que 80% das casas apresentam deficiências técnicas e que apenas 22,4% foram construídas após o Regulamento Técnico de 2002. Isto deixa claro que a maioria das casas continua a depender de redes antigas, pouco preparadas para assumir novas demandas energéticas, como as que requerem aerotermia ou autoconsumo solar.
Sinais para saber se a sua habitação é adequada. Antes de considerar a instalação de aerotermia, os técnicos recomendam fazer uma avaliação prévia. De acordo com os especialistas, estes são os principais requisitos técnicos:
- Dispor de um espaço exterior ventilado, livre de obstáculos, para colocar a unidade exterior.
- Ter uma instalação elétrica moderna e potência contratada suficiente.
- Verificar o isolamento térmico e a carpintaria: sem um bom revestimento, a eficiência do sistema diminui.
- Adaptar o sistema de aquecimento existente (por exemplo, substituindo radiadores convencionais por piso radiante).
- Realizar um estudo de viabilidade climática: em zonas muito frias ou quentes, pode ser necessário o apoio de outro sistema.

Em suma, a aerotermia não se instala, prepara-se. Uma casa bem isolada e com uma instalação elétrica moderna pode converter o ar em energia gratuita; uma casa antiga, por outro lado, pode convertê-la num gasto difícil de amortizar. Além disso, se tiver, o investimento inicial pode ultrapassar os 8.000 euros num apartamento de 80 m².
E se for combinada com energia solar? Onde a aerotermia revela todo o seu potencial é quando combinada com energia solar fotovoltaica. Esta sinergia multiplica o rendimento e reduz a dependência da rede elétrica. A energia gerada pelos painéis pode alimentar a bomba de calor, conseguindo um sistema quase autossuficiente e com um balanço de emissões próximo de zero. Além disso, já foi aplicada em projetos reais, como a Casa Gualba, projetada pelo Slow Studio. Esta fórmula permite produzir até 17 MWh por ano, graças à integração de telhas e painéis fotovoltaicos no telhado. Em suma, a aerotermia e a energia solar formam uma dupla eficiente, desde que a habitação esteja preparada para isso.
Eficiência, sim, mas com preparação. A aerotermia veio para ficar. É uma peça fundamental no caminho para casas descarbonizadas, especialmente agora que a União Europeia proibiu no início do ano a subvenção de caldeiras a gás. Mas, como toda tecnologia, só funciona bem quando o ambiente a acompanha. Investir em aerotermia sem verificar primeiro a instalação elétrica, o isolamento ou a orientação da habitação pode traduzir-se em frustração, em vez de poupança. Por isso, é conveniente fazer uma boa verificação para que o ar se possa tornar o nosso melhor aliado contra o frio.
