Pompéia: encontrado banco de 2.000 anos em frente à Villa dos Mistérios, que servia de «sala de espera» para petições

A descoberta de um banco romano em frente a uma das vilas mais famosas da cidade soterrada pelo Vesúvio revela como funcionavam as hierarquias e a política na Roma antiga. O banco que servia de «sala de espera» em frente à Villa dos Mistérios.Parco Archeologico di Pompei.

A cidade de Pompeia não para de nos revelar histórias do seu passado. Soterrada pela erupção do Vesúvio em 79 d.C., esta importante cidade romana congelada no tempo continua a revelar, pouco a pouco, os segredos da vida quotidiana romana. A descoberta mais recente não é um túmulo nem um afresco, mas algo aparentemente mais simples: um banco de pedra. Mas não era um banco qualquer; funcionava como uma «sala de espera» ao ar livre em frente à conhecida Villa dos Mistérios, onde clientes, trabalhadores e viajantes se sentavam durante horas para tentar ser recebidos pelo dono da casa e pedir-lhe favores ou fazer-lhe pedidos.

O banco dos favores

De acordo com o comunicado oficial do Parque Arqueológico de Pompeia que anunciou a descoberta, o banco foi descoberto em frente à entrada monumental da Villa dei Misteri, uma das domus mais emblemáticas da cidade, que recebeu esse nome devido aos afrescos de uma de suas salas, conhecida como “Aula dei Misteri”. O banco, uma panca d’attesa, localizado na via pública em frente ao portão monumental de entrada da residência, era construído em cocciopesto, uma mistura de cal e fragmentos cerâmicos, e fazia parte de um ritual cotidiano na sociedade romana: a salutatio.

Este ritual consistia em que os clientes, pessoas de menor posição social do que o dominus da villa, iam até lá em busca de favores, apoio legal, empréstimos ou simplesmente para demonstrar lealdade política ao seu patrão. Em troca, ofereciam apoio eleitoral ou vários serviços, de acordo com as interpretações dos arqueólogos.

«Durante as longas horas de espera, nunca se sabia se o senhor o receberia naquele dia», explica Gabriel Zuchtriegel, diretor do Parque Arqueológico de Pompeia. «Talvez na noite anterior ele tivesse ficado acordado até de madrugada e preferisse dormir, ou tivesse algo mais para fazer. Então, alguns dos que esperavam aqui, com um objeto afiado ou um pedaço de carvão, escreveram na parede para passar o tempo».

Graffitis para «matar» o tédio

Assim, na parede adjacente ao banco, os investigadores encontraram inscrições que incluem uma data sem ano e o que poderia ser um nome. São traços resultantes da impaciência, do tédio, já que aqueles que esperavam nunca sabiam exatamente quando seriam atendidos.

A Villa dos Mistérios era uma residência de elite que funcionava quase como um centro de poder local, pelo que, quanto mais pessoas esperavam sentadas naquele banco, maior era o prestígio do proprietário que ali habitava. Era um símbolo de status; como uma sala de espera política: se havia uma longa fila à espera, o patrão era influente.

Arqueologia circular

Em si, a descoberta do banco é fruto de uma nova fase de escavações na zona noroeste da villa, ativadas após a demolição de construções ilegais no local, conforme confirmado pelo procurador Nunzio Fragliasso. Esta iniciativa faz parte de um modelo de «arqueologia circular», que procura combinar investigação científica, proteção legal e acesso público.

«A retomada das escavações na Villa dei Misteri foi possível graças à colaboração entre o Parque Arqueológico de Pompeia e a Procuradoria de Torre Annunziata. Isso marca a implementação dos acordos assinados por ambas as instituições tanto para combater o tráfico ilegal de artefatos arqueológicos quanto para financiar a demolição de edifícios ilegais construídos na área arqueológica protegida do Parque Arqueológico de Pompeia. Graças a esta iniciativa conjunta, foi possível demolir a casa com obras ilegais que se encontra sobre a Villa dei Misteri e, com financiamento do Parque Arqueológico, demolir um restaurante completamente ilegal situado em frente à Villa dei Misteri, para garantir um melhor acesso ao local para os visitantes», esclarece Fragliasso.

Além do banco, esta campanha foi bastante frutífera para os arqueólogos, pois foi encontrada a entrada monumental original da villa, ladeada por blocos de lava, pinturas murais em estilo pompeiano III, com fundos pretos e amarelos, ou uma cisterna abobadada e parte do sistema hidráulico da casa, entre outras coisas.

Alisia Pereira/ author of the article

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