Cientistas desenvolveram um antídoto inovador que protege contra 17 tipos de cobras

O antídoto, criado por investigadores da Dinamarca e do Reino Unido, pode melhorar o tratamento em situações de emergência relacionadas com envenenamento. Quais são os desafios, na opinião do especialista da Associação Tóxico-Química Argentina, entrevistado pela Infobae Cientistas criaram um antídoto para o tratamento de picadas de cobra. Entre outras espécies, ele pode ser útil contra a mamba verde, uma espécie de cobra africana

A lhama e a alpaca, originárias da América do Sul, podem ser a chave para resolver um dos problemas mais urgentes da saúde pública: as picadas de cobra.

Um grupo de cientistas da Dinamarca e do Reino Unido combinou anticorpos desses animais e criou um antídoto capaz de neutralizar a ação de 17 espécies de serpentes. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature. Até o momento, a eficácia do antídoto foi testada em modelos animais, mas surgiu a esperança de que possa existir uma solução mais simples e universal para o tratamento de picadas de cobra mortais. O trabalho foi conduzido por Ann Ljungars, da Universidade Técnica da Dinamarca, com o apoio de especialistas da Universidade de Bangor, no Reino Unido, e de outras instituições.

O que as cobras fazem: mordem ou picam?

De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde, até 138 000 pessoas morrem anualmente em todo o mundo devido a picadas de cobra. As cobras mordem. Quando atacam para se defender ou caçar, elas usam os dentes para morder e injetar veneno na presa ou para se defender. O termo correto é «mordida de cobra», e não «picada». De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente, até 138 000 pessoas morrem no mundo devido a picadas de cobra. Além disso, estima-se que, anualmente, entre 1,8 e 2,7 milhões de pessoas sofrem intoxicações graves por esse motivo.

Os antídotos modernos são produzidos a partir do plasma de cavalos, aos quais são administradas pequenas doses de veneno. Mas cada soro atua apenas em uma espécie específica. Os antídotos tradicionais são produzidos a partir de anticorpos obtidos do plasma de cavalos imunizados com veneno de cobra. A plasma de cavalos contém várias proteínas e anticorpos que o sistema imunológico humano reconhece como estranhos, o que pode causar reações graves nos pacientes.

O tempo é limitado: os médicos e as vítimas geralmente não sabem que tipo de cobra foi envolvida, o que dificulta a escolha do antídoto. «É difícil identificar a cobra responsável pela picada, o que dificulta o acesso oportuno a um tratamento eficaz», explicou Ann Ljungars numa entrevista à revista Nature. Por isso, os investigadores estabeleceram como objetivo desenvolver um antídoto seguro, eficaz contra vários tipos de cobras e que aliviasse os danos locais na pele ou nos músculos.

Assim nasceu o antídoto de lamas e alpacas

Uma equipa de cientistas da Dinamarca e do Reino Unido descobriu em laboratório que o antídoto neutraliza o efeito de 17 espécies de cobras, incluindo a cobra africana / Wolfgang Wüster Para criar esta solução, a equipa de investigadores imunizou lamas e alpacas com venenos de 18 espécies de cobras africanas. Este grupo inclui as temíveis mambas, cobras e rincalas.

Destes animais foram extraídos nanoanticorpos, que são tão pequenos que podem penetrar nos tecidos mais afetados e bloquear toxinas muito perigosas. O cocktail final incluiu oito nanocorpos diferentes, que foram então injetados em ratos expostos aos venenos para observar a reação. Os animais tratados ficaram protegidos contra o veneno de 17 espécies e também apresentaram menos lesões na pele. O antídoto de lhama e alpaca demonstrou maior eficácia do que o soro Inoserp PAN-AFRICA, o mais amplamente utilizado nos países da África Subsaariana.

Os cientistas também descobriram que o novo antídoto demonstrou maior eficácia do que o Inoserp PAN-AFRICA, o soro mais amplamente utilizado nos países da África Subsaariana para o tratamento de picadas de cobra. Durante muito tempo, acreditou-se que seriam necessárias dezenas ou centenas de anticorpos diferentes para criar um antídoto universal, tendo em conta que o veneno de cobra contém até 100 toxinas de diferentes famílias.

No entanto, os investigadores provaram o contrário: com a ajuda de oito nanocorpos, alcançaram um espectro de proteção mais amplo do que nunca. «A capacidade deste antídoto de impedir a morte dos tecidos é particularmente importante», salientou Anita Malhotra, bióloga evolucionista da Universidade de Bangor.

O que é preciso melhorar e quais os próximos passos

Os nanoanticorpos extraídos de lhamas e alpacas podem atingir os tecidos afetados e bloquear toxinas perigosas, como a toxina da mamiba negra Apesar dos bons resultados, os cientistas observaram que os nanoanticorpos de lhamas e alpacas se decompõem rapidamente no organismo, o que pode reduzir a sua capacidade de proteção em seres humanos ou animais de grande porte. Por isso, agora eles estão a tentar reforçar a ação do antídoto e passar para os testes clínicos em humanos. Otimizar a fórmula e testá-la em novas regiões são as tarefas imediatas.

A amputação ou perda de função, mesmo que a vítima sobreviva, são consequências graves e frequentemente ignoradas do tratamento atual das picadas. O desenvolvimento visa superar as limitações dos antídotos existentes, que atuam apenas em certas espécies e podem causar reações graves. Wolfgang Wüster O cientista Adolfo de Ruodt, professor de toxicologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires e membro da Associação Argentina de Toxicologia, comentou: «A nova tecnologia de nanotecnologia para a produção de antídotos no futuro destaca-se entre as alternativas biotecnológicas, porque é mais simples e económica».

No entanto, é importante ter em conta que é muito importante selecionar cuidadosamente quais moléculas devem ser neutralizadas, pois os venenos variam muito entre as espécies e até mesmo dentro de uma mesma espécie. A variabilidade do veneno da jararaca, mesmo entre regiões, exige uma escolha cuidadosa do nanotelo para uma neutralização eficaz. «Por exemplo, o veneno das jararacas de diferentes regiões da Argentina pode ser diferente. Portanto, ao desenvolver o nanotelo, é necessário garantir que ele atue nas moléculas-chave e funcione em todos os casos relevantes», indicou De Rudt.

Ele enfatizou que «a tecnologia é valiosa. De qualquer forma, ainda há questões importantes a serem resolvidas, especialmente aquelas relacionadas à duração da ação no organismo e aos custos de produção em grande escala». Um ponto positivo, sublinhou ele, é que este método é mais acessível e barato de produzir do que outros métodos biotecnológicos e, se passar nos testes necessários para aplicação em seres humanos, pode facilitar a produção de antídotos a um preço mais baixo.

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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