Começa a nova tática para conseguir um aluguer: «Pega na mão do seu amigo durante a visita e funciona»

Fingir um relacionamento amoroso para conseguir um apartamento para alugar. Essa é a nova tática que está a ser usada para superar os filtros cada vez mais rigorosos dos proprietários. Às vezes são um casal, às vezes não. Mas, segundo quem já experimentou, dá resultado.

«Pega na mão do seu amigo durante a visita e funciona», conta Agathe, uma jovem de 28 anos entrevistada pelo Le Figaro, que, após dois meses sem sucesso à procura de um apartamento em Rennes, França, com a sua melhor amiga, decidiu inventar um relacionamento. «Desde que começámos a dizer que éramos um casal, encontrámos um apartamento em duas semanas», conta.

Esta estratégia tornou-se uma opção cada vez mais comum em cidades onde a procura supera largamente a oferta, como é o caso de Paris, Nice ou Rennes, em França. Com a pressão do mercado, o aumento dos alugueres turísticos do tipo Airbnb e os critérios excludentes de muitos senhorios, fingir estabilidade emocional pode fazer a diferença entre conseguir ou não um apartamento.

Fingir para contornar

Esta prática vislumbra um cenário particular e especialmente complicado para aqueles com instabilidade, em geral. Em cidades como Madrid, Barcelona ou Palma, os proprietários costumam exigir contratos indefinidos com antiguidade mínima, cauções de até dois meses, garantias adicionais ou avais bancários e provas de rendimentos que excedam em muito o valor do aluguer.

É comum que o inquilino tenha de apresentar os últimos três recibos de vencimento, o historial profissional e até referências de senhorios anteriores. Em muitos casos, é valorizado que o contrato seja assinado por duas pessoas com rendimentos estáveis. Dois salários tranquilizam mais do que um só.

Embora em 2023 tenha sido aprovada a Lei pelo Direito à Habitação, a sua aplicação está a ser desigual entre as comunidades autónomas. A regulamentação introduz medidas como o limite anual de 3% para a atualização do aluguel, incentivos fiscais para pequenos proprietários que reduzirem o aluguel e a declaração de “zonas tensionadas” — onde é limitado o preço máximo que o locador pode cobrar se tiver mais de 10 imóveis. Também são estabelecidas novas garantias para o inquilino, como prorrogações automáticas do contrato e maior proteção contra despejos.

No entanto, a lei ainda não conseguiu travar a exigência de requisitos rigorosos por parte dos proprietários. Embora já não possam aumentar o preço livremente em algumas zonas, continuam a ter capacidade de decisão na hora de selecionar os inquilinos. Isto exclui muitos perfis: jovens sem contrato fixo, trabalhadores independentes, famílias monoparentais ou pessoas solteiras que não podem apresentar fiadores solventes. A norma protege aqueles que já estão dentro do sistema, mas nem sempre facilita o acesso àqueles que tentam entrar. Por isso, não é raro ver «truques» como este. Num mercado que favorece as aparências de estabilidade, fingir ser um casal torna-se um recurso questionável, mas eficaz.

Alisia Pereira/ author of the article

Escrevo artigos, partilho ideias simples que tornam a vida mais fácil.

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