Agustín Iaconis, produtor e empreiteiro, tem num campo de Corbett, em 9 de Julho, uma máquina que não consegue retirar devido ao avanço da inundação; precisa de uma retroescavadora. Na zona de Corbett, no distrito de 9 de Julho, na província de Buenos Aires, há produtores que passaram de se preparar para a colheita, que não podem fazer há semanas, a ter mais de 40 centímetros de água nos lotes. Nesse local, a colheita transformou-se num drama, onde em poucos dias a água cobriu campos inteiros e deixou as máquinas inutilizadas. Essa foi a história de Agustín Iaconis, produtor e empreiteiro da zona, que contou que há apenas dez dias aceitaram colher uma safra num campo da zona e terminaram com a máquina presa e debaixo de água.
“Fomos prestar um serviço há cerca de dez dias e a colheitadeira ficou presa. Não há como retirá-la sem uma retroescavadora. A máquina ainda está lá, está coberta pela água porque um canal transbordou e a água está entrando onde a colheitadeira está. Se não conseguir retirá-la, vou acabar perdendo-a porque está coberta pela água”
O produtor contou que, junto com outros vizinhos, planejava tentar retirar a colheitadeira, embora reconhecesse que a tarefa parece impossível, a menos que seja com um equipamento especial, já que, desde então, o nível da água subiu pelo menos 50 cm. “Amanhã eu iria com alguns vizinhos que vão me ajudar com outros tratores para ver se conseguimos retirá-la, mas acho que vai ser impossível”, lamentou. A Challenger, modelo 2010, ainda está a ser paga. No mercado, disse ele, custa 220.000 dólares. Embora estivesse segurada, o seguro não cobre este tipo de incidentes por inundações.
Segundo ele, mesmo tendo uma possível solução para retirá-lo, a família não pode arcar com os custos: “A solução seria uma retroescavadora, mas na situação em que estamos, os empreiteiros não têm como pagar esse serviço. É um ano muito complicado para todos. A água complicou as coisas e não pudemos trabalhar. Este era um trabalho que aceitámos para poder continuar vivendo, porque nem as contas conseguimos pagar. É muito lamentável porque acabam os sacrifícios do meu avô, do meu pai, os meus… de todos juntos”, acrescentou.
O custo de uma retroescavadora para realizar o trabalho rondaria os 4 ou 5 milhões de pesos: “É uma loucura e não temos dinheiro para pagar”. A sua família está há anos na atividade agrícola. “Meu pai [Gabriel Iaconis] começou com meu avô há 35 anos e continuamos passando de geração em geração. Agora sou eu; tenho 25 anos e, desde que me lembro, nunca vi nada parecido. Meu pai e meu avô sempre me contaram que em 2000 ou 2001 também houve uma grande enchente, mas dizem que não tem nada a ver com a de agora. Isto é muito maior», avaliou.
Devido às inundações, acrescentou, muitos campos da região ficaram sem colheita. «É muito lamentável o que estamos a viver. Em outros anos, uma colheita normal que fazíamos era de 1500 hectares. Este ano, não chegamos a 500. E as despesas este ano ultrapassam o dobro do normal, por combustível, avarias, tudo o que é necessário. Os custos operacionais são muito mais elevados do que em anos normais”, enumerou. O campo onde permanece a colheitadeira está localizado na estrada 65, a caminho de Bolívar, na localidade de Corbett. “Se alguém ler isto e tiver uma retro que me possa dar uma ajuda, eu agradeceria. Tenho outra velha, mas é uma máquina pequena que hoje, com a tecnologia que existe e as exigências dos proprietários dos campos, já não serve para trabalhar”, disse.
Mais casos
A situação afeta uma ampla faixa que inclui Ordoqui, Hortensia, El Tejar, Carlos María Naon, onde a água não evapora, não encontra saída e as estradas rurais ficaram praticamente intransitáveis. “Estamos com muita dificuldade na zona. Recebemos muita água de Carlos Casares que vai para Ordoqui e Hortensia, porque a água tem pouca saída. Aqui chove e a água fica. A rota 65 está a formar uma grande barragem neste momento», contou Jorge Dawney, produtor da zona.
Dawney explicou que os produtores perderam 20% da superfície de soja e não puderam nem semear trigo nem aplicar fertilizante devido à falta de solo. «Queríamos iniciar a campanha de grãos, mas também não pudemos. Desde março, a água não baixou. Perdemos tempo, hectares e estradas”, resumiu. O impacto logístico também é grave. “Não conseguimos carregar um camião porque sempre faltaram estradas. Tivemos que vender gado e carregá-lo em um campo vizinho para poder continuar girando a roda”, descreveu.
Diante da falta de assistência do Estado, os próprios produtores decidiram reparar as estradas por conta própria, com um investimento milionário que tiveram de fazer entre três famílias. “As estradas foram consertadas comprando pedras em Olavarría e contratando retroescavadoras privadas. Fizemos tudo com o nosso próprio esforço. Entre três campos, gastámos mais de 70 milhões de pesos para consertar menos de 5 quilómetros. Fizemos isso para poder retirar o gado”, disse o produtor.
Ele explicou que, embora a rede rodoviária do município tenha prometido descontar até 30% do imposto rural pelos trabalhos realizados com esse investimento, ainda não houve uma resposta concreta sobre os trabalhos que podem ser realizados pelo município. “Não temos resposta de ninguém: nem da autoridade da água nem do município. A nível provincial, ninguém contribuiu com nada. Ninguém tem a culpa de nada. Somos nós, os produtores, que, unindo-nos, estamos a arrumar as estradas para podermos circular”, disse com resignação.
No seu caso, assim como no de muitos, ele está a semear apenas 50% da área que semeou no ano passado. Por isso, ele alertou que o verdadeiro impacto dessas inundações será visto em 2026. “Este ano estamos a colher, mas no ano que vem não vamos colher. O problema econômico está apenas a começar”, antecipou. A zona solicitou a emergência agrícola devido às inundações e, além disso, está a avaliar pedir o desastre agrícola se as chuvas continuarem. «Está tudo igual. Há outras localidades muito afetadas, como Bacacay, El Tejar e Carlos María Naón», resumiu Dawney.