O cientista Yuki Hanyu, através do Shojinmeat Project, concebeu um biorreator doméstico capaz de desenvolver as células de um óvulo fertilizado. O seu preço será de aproximadamente 400 euros. Produzir carne cultivada em casa já não é uma fantasia futurista. Como relatado na BBC Science Focus, um grupo de investigadores japoneses está a trabalhar numa tecnologia que permitirá aos consumidores cultivar carne real sem a necessidade de criar animais, através de um sistema acessível e seguro concebido para uso doméstico.
O Shojinmeat Project nasceu da mão do cientista, que desde jovem se interessou pela biotecnologia e pela alimentação do futuro. Este projeto define-se como uma iniciativa cidadã sem fins lucrativos que procura ensinar qualquer pessoa a produzir carne cultivada utilizando materiais disponíveis no mercado e um protocolo simples de cultura celular. Inspirado na cozinha budista shojin ryori, que rejeita o sacrifício animal, Hanyu propõe um modelo de consumo ético que combina sustentabilidade e tecnologia. Segundo o investigador, o objetivo é que «chefs ou amadores possam criar carne de design nos seus próprios espaços», sem depender de laboratórios especializados ou de equipamento industrial.
Biotecnologia que cabe na sua cozinha
O procedimento começa com a extração de células de um ovo fertilizado de galinha, que são cultivadas num biorreator caseiro. Neste ambiente controlado, as células são alimentadas com um meio contendo açúcares, aminoácidos, vitaminas e minerais. Com o passar do tempo, esse processo resulta numa pequena massa de tecido comestível, equivalente a um pedaço de carne.
O custo estimado do material necessário ronda os 60 000 ienes (cerca de 340 euros) e pode ser adquirido pela Internet ou em lojas especializadas. O kit básico inclui um aquecedor de toalhas que funciona como incubadora, um recipiente revestido de colagénio que serve de suporte celular e uma bebida isotónica que fornece os nutrientes essenciais. Embora a produção inicial atinja apenas um grama, a ideia de cultivar carne em casa já é uma realidade tangível.
IntegriCulture, o próximo passo
Deste projeto surgiu a IntegriCulture, uma empresa japonesa que desenvolveu um biorreator doméstico de tamanho reduzido, semelhante a uma fritadeira de ar. Este dispositivo permite cultivar mais de 30 tipos de células provenientes de diferentes espécies animais e aquáticas, ampliando as possibilidades do sistema inicial.
O processo requer extrema limpeza, pois a contaminação bacteriana ou a presença de mofo podem arruinar a cultura. “Evitar a contaminação, como mofo ou bactérias, é fundamental”, explica Hanyu. Por isso, os usuários devem desinfetar minuciosamente todos os componentes e manter as condições adequadas de temperatura e pH. A carne cultivada representa uma alternativa mais sustentável do que a pecuária tradicional, reduzindo o impacto ambiental e eliminando o sofrimento animal. No entanto, sua aceitação social ainda é limitada: alguns consumidores mostram-se relutantes em experimentar alimentos produzidos por meio da biotecnologia.