O Tesouro vendeu US$ 500 milhões para conter o dólar e foi praticamente o único oferente no mercado

O dólar no mercado grossista subiu 43 pesos, ou 3,1%, no dia, para US$ 1,423 na venda. Embora o BCRA não tenha intervindo, os operadores concordaram que houve fortes posições oficiais. O volume de negócios no mercado grossista manteve-se elevado nesta quarta-feira, com 729,8 milhões de dólares no segmento à vista, embora o BCRA não tenha intervindo na operação, dado o esquema de bandas flutuantes.

No entanto, a presença oficial com posições por conta do Tesouro desde o início da operação no segmento à vista foi crucial para conter a alta do dólar, que subiu 43 pesos ou 3,1%, para 1.423 pesos. Vários operadores indicaram ao que as vendas do Tesouro atingiram cerca de US$ 500 milhões no dia, o que reflete a escassa oferta privada, em contraste com uma demanda insistente, num mercado tenso, que soma às compras habituais no varejo no início do mês a pressão própria da demanda por cobertura na véspera das eleições.

«Hoje, o Tesouro colocou duas ‘paredes’ em 1.425 pesos por 800 milhões de dólares. Foi a única oferta do mercado. Segundo rumores, teria vendido 450 milhões de dólares hoje», indicou Nicolás Cappella, analista do IEB. Dado o remanescente das liquidações agrícolas, no âmbito da eliminação temporária das retenções na semana passada, cabe verificar o saldo líquido entre as compras e vendas efetuadas pelo Tesouro e o seu efeito sobre o stock de reservas.

As reservas ultrapassaram os 42 mil milhões de dólares

Como é habitual, os depósitos em dólares da carteira própria dos bancos que saem do sistema no final do mês são novamente colocados em contas do Banco Central e, portanto, são integrados no cálculo das reservas internacionais.

Esses movimentos, em conformidade com a regulamentação sobre posição global líquida em moeda estrangeira exigida às entidades, foram a principal razão para o aumento de 1,857 mil milhões de dólares nas reservas do Banco Central nesta quarta-feira, que atingiram 42,231 mil milhões de dólares, o maior estoque desde 5 de agosto passado, há quase dois meses.

“Todo o aumento das reservas de hoje é explicado pelo retorno dos movimentos dos bancos que compensam as saídas dos últimos dias de setembro. São dólares que os bancos transferem para os seus correspondentes no exterior e depois retornam”

Uma forte liquidação de dólares de exportações agrícolas, após uma redução temporária das retenções que representou uma entrada imediata de cerca de 7 mil milhões de dólares, e o apoio prestado pelos Estados Unidos com a negociação de um swap de moedas no valor de 20 mil milhões de dólares pareciam constituir bases sólidas para acalmar a pressão ascendente sobre o dólar e, ao mesmo tempo, permitir compras de reservas por conta do Tesouro. Na terça-feira, este movimento contribuiu com compras oficiais líquidas de 30 milhões de dólares, com impacto marginal nos ativos do Banco Central.

Em setembro, os exportadores de oleaginosas e cereais liquidaram um total de US$ 7,107 bilhões, um aumento de 187% em relação ao ano anterior. Esse forte aumento foi impulsionado pela eliminação temporária das retenções, com um limite de US$ 7 bilhões em liquidações. Sob o esquema, 90% das vendas deveriam ser liquidadas dentro de três dias após o registo. Do total, US$ 6,3 bilhões corresponderam a essa medida, dos quais o Tesouro absorveu cerca de US$ 2,2 bilhões, um valor inferior ao previsto, dado o custo fiscal da iniciativa.

Por sua vez, o Banco Central voltou a implementar restrições no mercado cambial, de modo que os compradores de dólares oficiais não podem operar por 90 dias no mercado denominado «Contado com Liquidación» ou «MEP» e vice-versa, para evitar negócios especulativos.

Na terça-feira, o torniquete à procura de dólares foi ajustado depois de o Banco Central ter impulsionado que as carteiras virtuais deixassem de vender dólares oficiais aos seus clientes, o que teve impacto basicamente em duas empresas: Mercado Pago e Cocos Capital.

«O entusiasmo inicial acabou por esmorecer devido às limitações da situação e às perspetivas políticas, mas foi possível voltar a acumular reservas correntes, o que consideramos ser um passo indispensável num eventual processo de recuperação», estimou a VatNet Financial Research.

«Na semana passada, o Tesouro teria comprado mais de mil milhões de dólares do setor agrícola, recuperando assim o que foi perdido nas intervenções da semana anterior», lembrou Roberto Geretto, economista do Adcap Grupo Financiero. «Isso parece ser uma mudança de paradigma, onde antes o governo sempre priorizava um dólar mais baixo. Assim, a nova postura é priorizar a atividade e o setor externo acima de uma inflação inferior a 2% ao mês”, estimou.

“Se não surgirem mais novidades e sem correções antes das eleições, tudo indica que teremos dias difíceis”, estimou o economista Pablo Moldovan, diretor da C-P Consultora. “Após três rodadas em que o teto da banda foi ‘testado’, o governo teve que recorrer a um resgate dos EUA e a medidas de emergência. A instabilidade do dólar pode afetar novamente as cotações financeiras e manter esse esquema até outubro implica uma transição bastante turbulenta”, acrescentou.

«Observam-se sinais crescentes de uma maior procura de cobertura, não só por parte dos exportadores, mas também dos investidores, face à antecâmara eleitoral e à descida das taxas do BCRA, pelo que se especula que o «piso» a curto prazo já estaria muito próximo», estimou o economista Gustavo Ber.

Alisia Pereira/ author of the article

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